Viver com saúde e boa forma
são preocupações que perpassa todos os segmentos da sociedade, principalmente o
do público feminino. A preocupação com o corpo saudável, e acima de tudo bonito
atravessa contemporaneamente, os diferentes gêneros, faixas etárias e classes
sociais.
A grande preocupação com a beleza, aparência jovem e saudável da pele e
do corpo tem impulsionado pesquisas por substâncias que sejam capazes de
contribuírem com a estética corporal.
Dentre as substâncias estudadas, encontram-se os polifenois, que
constituem um grupo heterogêneo composto de várias substâncias, em especial o
resveratrol, que atraiu atenção especial nas últimas décadas. Trans-resveratrol é uma substância
fenólica do tipo não flavanódica que pode ser encontrada em várias plantas. Tem
ocorrência também em chás, frutas, plantas medicinais e em vinhos,
especialmente nos tintos. Esta substância tem sido apontada como responsável
por vários benefícios a saúde humana.
Estudos mostram associação entre o consumo desse nutriente e a prevenção
e terapia de doenças cardiovasculares e câncer, devido às suas propriedades
antioxidantes e anti-inflamatórias.
O interesse pelo resveratrol é ainda maior quando se trata da indústria
farmacêutica voltada para a estética, que vem investindo em produtos que
influenciam no controle do excesso de peso, nos cuidados com a pele e na
diminuição do envelhecimento precoce.
Resveratrol
O
resveratrol (3, 4, 5 trihidroxiestilbeno)
é
um composto fenólico largamente encontrado na pele da uva vermelha, foi
primeiramente conhecido como o componente principal do Ko-Jo-Kon, extraído das raízes do Poligonum Cuspidatum.
Este
vegetal é cultivado comercialmente na China para a produção do resveratrol
usado em suplemento dietético. No Japão, é utilizado no preparo de chá Itadori,
que representa a fonte não alcoólica do resveratrol.
O
resveratrol é conhecido há muito tempo na terapêutica medicina Oriental, sendo
utilizado pelos chineses e japoneses para o tratamento da arteriosclerose, de doenças
inflamatória e alérgicas. Suas características polifenólicas permitem explicar
suas atividades anti-agregação plaquetária, antioxidante e redutora de
triglicerídeos.
Entre
suas diversas propriedades, incluem-se a atividade anti-inflamatória via inibição
do TNF-alfa e do óxido nítrico; a função antioxidante, pois esse composto
demonstra alta finalidade por radicais livres; e a inibição da agregação
plaquetária, via inibição da do ácido araquidônico, que está ligado de maneira
íntima e direta a essa lesão.
Outros
efeitos benéficos estão relacionados com a modulação do metabolismo lipídico,
reduzindo a secreção do colesterol e dos triglicerídeos pelas células hepáticas
e a atividade estrogênica, por apresentar afinidade pelo receptor desse
hormônio. Além disso, ressalta-se também sua função na inibição da peroxidação
do LDL em decorrência de sua afinidade com o cobre, o que impede de se ligar
com o LDL.
Existem
muitos estudos do metabolismo e efeitos fisiológicos das diferentes formas do
resveratrol, mas a biodisponibilidade não foi ainda bem estudada.
As
fontes mais abundantes de resveratrol são as uvas Vitis Vinifera, V. Labrussa e
V. Muscadine que são usadas na fabricação de vinhos. É encontrado em
videiras, nas raízes, sementes e talos, mas a concentração maior está na
película das uvas, que contém 50-100 μg/g.
Pode
também ser encontrado em amendoim, cacau e algumas variedades de chás, porém a
principal fonte dessa substância antioxidante são as cascas e sementes de uvas
vermelhas e seus derivados, como o vinho tinto.
Acne
vulgaris
A acne vulgar é dermatose crônica, comum em adolescentes. É
doença do folículo pilossebáceo, que possui, como fatores fundamentais,
hiperprodução sebácea, hiperqueratinização folicular, aumento da colonização
por Propionibacterium acnes e
inflamação dérmica periglandular. Ocorre em todas as raças, embora seja menos
intensa em orientais e negros, e manifesta-se mais gravemente no sexo
masculino.
A influência genética na
acne é muito importante, acreditando-se que ela seja maior quanto maior for o
grau da dermatose. Para acne grau I, essa participação é de 88%; para o grau
II, 86%; para o grau III, 100%. Em indivíduos sem acne, a ocorrência familiar é
de 40%. A influência genética ocorre
sobre o controle hormonal, a hiperqueratinização folicular e a secreção
sebácea, mas não sobre a infecção bacteriana.
Em estudo duplo cego, onde investigaram os efeitos
terapêuticos do resveratrol em um gel de carboximetilcelulose no tratamento da
acne vulgaris. Mostrou uma diminuição clinicamente relevante e estatisticamente
significativa de lesões em áreas tratadas com resveratrol contendo hidrogel.
Já outro estudo relatou uma
redução significativa de eritemas, número de lesões de acne, comedões e, acima
de tudo, descamação em 96% dos pacientes tratados com um creme contendo 1% de
resveratrol. Mais particularmente, a eficácia do tratamento na maioria dos
casos provou ser devido à redução da hiperqueratose do folículo, que é um
importante fator de formação dos comedões, uma vez que provoca o espessamento
da parede do folículo com a retenção de sebo.
Ação anti-inflamatória
no tecido adiposo
O tecido adiposo é um órgão com
várias funções: isolamento térmico, barreira física ao trauma, armazenamento
energético e secreção de proteínas e peptídeos bioativos com ação local e à
distância.
É fundamental para o estado
inflamatório associado à obesidade, principalmente devido à infiltração de macrófagos,
que pode acarretar em inflamação local, tendo papel crucial no desencadeamento
da resistência periférica à insulina, cuja gênese está relacionada ao aumento
da concentração plasmática de citocinas envolvidas no processo inflamatório
como o fator de necrose tumoral-α (TNF-α) e interleucina-6 (IL-6).
O resveratrol foi considerado
como um potente imitador dos efeitos da restrição calórica e parece atuar
diretamente sobre o tecido adiposo através de mecanismos que afetam a
diferenciação e metabolismo das células de gordura ou perfil de secreção. Parece
agir em múltiplos estágios do ciclo de vida dos adipócitos, incluindo a
inibição da proliferação celular durante o desenvolvimento precoce dos
pré-adipócitos e inibição da diferenciação e da acumulação de lipídios durante
o desenvolvimento posterior dos pré-adipocitos. Aumenta também a lipólise e
reduz a lipogênese em adipócitos maduros.
O mecanismo de ativação das
sirtuínas pelo resveratrol é citado como potencial protetor contra alterações
metabólicas, como consequência da exposição crônica a uma dieta com alto teor
calórico, com melhora na função mitocondrial e na sensibilidade à insulina,
indução de proteínas antioxidantes e menor atividade de citocinas
pró-inflamatórias.
O resveratrol inibe in vitro a
expressão de citocinas pró-inflamatórias em células pulmonares estimuladas com
lipopolissacarídeos e suprime a ativação dos fatores de transcrição da proteína
ativadora 1 (AP-1) e NF-kB, fator de transcrição envolvido na regulação dos
genes da resposta inflamatória, na apoptose e no aumento da produção das
espécies reativas de oxigênio.
Outro efeito é a inibição da
expressão gênica das enzimas ciclo-oxigenase-2 (COX-2) e óxido nítrico sintase
induzível (iNOS), além das moléculas de adesão de superfície celular, como a
molécula-1 de adesão intercelular (ICAM-1), molécula-1 de adesão de leucócitos
endotelial (ELAM-1) e molécula-1 de adesão celular vascular (VCAM-1). Uma vez
que os genes que codificam para essas proteínas são regulados pelo fator de
transcrição NF-B, é possível que esse efeito anti-inflamatório do resveratrol
seja decorrente da sua ação supracitada sobre a via de sinalização do NF−Kb.
Antienvelhecimento
A pele é um órgão complexo no qual interações
celulares e moleculares reguladas de modo preciso governam muitas das agressões
provindas do meio ambiente. É constituída por vários tipos de células
interdependentes responsáveis pela manutenção da sua estrutura normal.
Com o envelhecimento cronológico cutâneo, ocorre a
modificação do material genético por meio de enzimas, alterações proteicas e a
proliferação celular decresce. Consequentemente, o tecido perde a elasticidade,
a capacidade de regular as trocas aquosas e a replicação do tecido se torna
menos eficiente.
O resveratrol, um polifenol antioxidante de vinho
tinto, tem sido objeto de intenso interesse nos últimos anos devido a uma
variedade de únicas propriedades antienvelhecimento.
Alguns
estudos têm relacionado à utilização do resveratrol com o retardo do
envelhecimento precoce, devido à sua ação antioxidante. Uma
alternativa baseada pela medicina é a interferência do processo oxidativo
através de dietas ricas em oxidantes. É nesta ação que os compostos fenólicos
naturais da uva, preservados no vinho, são responsáveis pela ação antioxidante
de proteção por intermédio de diversos mecanismos 50. Entre eles, podem ser citadas a captura
direta dos radicais livres, redução da atividade enzimática oxidativa e a
redução da concentração de lipídios peroxidásicos no plasma sanguíneo.
O
processo pelo qual o resveratrol retarda o envelhecimento parece ser semelhante
ao da restrição calórica (RC), inibindo alguns aspectos do processo de
envelhecimento, ao diminuir a formação de espécies reativas de oxigênio. O
resveratrol estimularia a produção e o funcionamento de uma família de enzimas
conhecidas como sirtuínas (SIRTs).
Estudos
têm discutido sobre o papel das sirtuínas na determinação da longevidade. A
restrição calórica aumenta as concentrações de Sir 2 ou SIRT1 e sua expressão.
A SIRT1 aumenta a capacidade mitocondrial e melhora a homeostase da glicose
sobre a dieta rica em gordura. Participa da indução da ativação da
gliconeogênese e diminui a glicólise no fígado. Aumenta a oxidação de ácidos
graxos no tecido muscular e no tecido adiposo branco e leva ao aumento da mobilização
de gordura e à diminuição da adipogênese.
Tal
enzima tem atividade de acetilase dependente de NAD+, que atua em diversos
processos celulares, incluindo a regulação de fatores de transcrição como
PGC-1alfa e PPAR gama, associadas ao metabolismo de glicose e lipídios. Tem
atuação na proteção contra doenças metabólicas, instruindo o organismo a
limitar o consumo e o gasto de energia no estado fisiológico.
Não está
claro sobre os mecanismos de extensão da vida pelo resveratrol e a relação com
a restrição de calorias, já que alguns estudos apontam que o resveratrol
aumentaria a atividade de SIRT1 apenas se o substrato for conjugado a uma
porção não fisiológica fluorescente, além de seu efeito de retardar o
envelhecimento não ser mediado pela ação direta sobre aumento da expressão de
tais proteínas.
A maioria
das pesquisas é realizada em modelos animais, dificultando estabelecer se a
restrição calórica teria o mesmo efeito sobre a longevidade dos humanos.
Fotoproteção
A radiação ultravioleta pode
provocar danos ao DNA, imunossupressão, alterações químicas e histológicas na
epiderme, envelhecimento precoce, cataratas e carcinogênese, dentre outras
deteriorações. A fotoproteção previne estes e outros efeitos danosos da
radiação ultravioleta.
A exposição à radiação UV é um
dos fatores mais importantes em muitas doenças de pele e outras doenças,
incluindo câncer e envelhecimento.
Um estudo realizado em 2003 com
queratinócitos submetidos à radiação e tratados previamente com resveratrol,
ainda que os mecanismos de ação não estejam totalmente esclarecidos, sugere-se
que os efeitos quimiopreventivos do resveratrol se dão pela inibição de NF-kB,
que é ativado em condições de estresse oxidativo.
No estudo de Reagan Shaw (2004) foram avaliados os efeitos protetores
do resveratrol contra a exposição UVB múltipla em modelos animais utilizados
para avaliar o fotoenvelhecimento e fotocarcinogênese. O resveratrol foi
aplicado topicamente antes de cada exposição. Os dados demonstraram que o
resveratrol tópico inibiu os danos causados pela exposição aos raios UVB, com
decréscimo de resposta hiperplásica e diminuição na infiltração de leucócitos,
que pode ser responsável por uma explosão adicional de espécies reativas de
oxigênio, causando maiores danos celulares.
Da mesma forma, Azis e cols.
(2005) demonstraram atividade quimiopreventiva do resveratrol, em
ratos expostos à radiação UVB. Os animais foram divididos em um grupo que
recebeu a aplicação tópica 30 minutos antes da exposição e outro grupo que
recebeu a aplicação tópica 5 minutos após a exposição. Os dois grupos
apresentaram significativa inibição no aparecimento de tumor de pele. E o grupo
cuja aplicação foi após a exposição teve melhor resultado, sugerindo que os
efeitos do resveratrol não sejam através de mecanismo de proteção solar, mas
por ativação de uma cascata de sinalização protetora.
Texto elaborado pela nutricionista: Dra. Juliana da Silveira Gonçalves.
Mestre
e doutoranda em Ciências da Saúde – Instituto de Cardiologia, RS.
Especialista em Nutrição Clínica pela Associação Brasileira de
Nutrição (ASBAN).
Especialista
em Nutrição Clínica – CBES, RJ.
Fitoterapia
– Universidade de Léon, Espanha.
Docente convidada em cursos pós-graduação e aperfeiçoamento/
extensão em diferentes instituições de ensino no Brasil.
Autora do Manual
de Atendimento em Nutrição Estética 2ª ed.
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