quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Cannabis: do uso recreativo às aplicações medicinais


Cannabis sativa (maconha) é uma planta bem conhecida, uma das mais antigas drogas usadas pelo homem, e gera muita controvérsia. Há intenso debate sobre o seu valor medicinal e legalização, e discussões sobre ser uma possível porta de entrada para drogas mais pesadas e dependência. Cannabis é um tópico quente entre defensores, detratores, órgãos reguladores e especialistas da área médica. A ciência mostra que Cannabis interage com células, órgãos e sistemas do organismo. Suas muitas ações na fisiologia humana a tornam um tema fascinante, com ramificações médicas, éticas e legais.

Fitocanabinoides - THC e CBD

Moléculas específicas de sinalização intercelular, receptores celulares e enzimas que degradam a Cannabis existem no corpo há milhares de anos, antes dos seres humanos começarem a ingerir ou queimar a planta e inalar a fumaça. Há registros que remontam a 4.700 anos, documentando seu uso medicinal. Em 1964 pesquisadores isolaram seu principal componente psicoativo, o tetrahidrocanabinol (THC). Depois foi isolado o canabidiol (CBD). No começo dos anos 90 foram isolados os receptores, denominados CB1 e CB2, onde os canabinoides se ligam e interagem na fisiologia humana. Atualmente sabe-se que Cannabis contém 400 fitocanabinoides, sendo que 144 são farmacologicamente ativos.

Endocanabinoides - anandamida e 2-AG

Além dos canabinoides exógenos (fitocanabinoides), vieram à tona os canabinoides endógenos (produzidos pelo corpo), revelando toda a complexidade do sistema endocanabinoide. Os mais estudados são anandamida e 2-AG (2-araquidonoilglicerol), porém há algumas centenas deles. Canabinoides realizam operações de sinalização semelhantes aos neurotransmissores do corpo, como dopamina e serotonina. O sistema endocanabinoide atua em uma variedade de processos fisiológicos, incluindo regulação metabólica, dor, sono, estresse, função imunológica e muito mais. Pesquisas recentes revelam sua ação na saúde intestinal e no controle de doenças inflamatórias do cólon.

Sistema endocanabinoide

O sistema endocanabinoide (ECS) é um extenso conjunto de sinalização endógeno com mais de uma centena de participantes. Para entender melhor, tanto endocanabinoides como fitocanabinoides funcionam como chaves que se encaixam nas fechaduras (receptores) e abrem as portas para produzir suas ações no organismo. Estes receptores (CB1 e CB2) estão distribuídos por diversos órgãos do corpo. CB1 está localizado principalmente no cérebro e medula, mediando funções como aprendizagem, memória, tomada de decisão, capacidade de resposta sensorial e motora, reações emocionais, apetite e outros processos biológicos. CB2 se localiza majoritariamente em órgãos periféricos e células associadas à modulação do sistema imunológico.




Indicações terapêuticas

A modulação da atividade do sistema endocanabinoide oferece uma grande promessa terapêutica para diversas enfermidades, como transtornos de ansiedade, problemas neurológicos e de movimento, dor, doenças autoimunes, lesão medular, câncer, doenças cardiometabólicas, derrame, traumatismo craniano, osteoporose e outros. Recentemente, os fitocanabinoides têm sido utilizados com sucesso como tratamento adjunto para tumores cerebrais malignos, mal de Parkinson e Alzheimer, esclerose múltipla, fibromialgia, doenças intestinais, dor neuropática, autismo e distúrbios convulsivos em crianças, depressão, insônia, e muito mais.

Texto elaborado por: Dra. Tamara Mazaracki. 

Título de Especialista em Nutrologia –  Associação Brasileira de Nutrologia;

Membro Titular da ABRAN – Associação Brasileira de Nutrologia;

Pós-graduação em Medicina Ortomolecular, Nutrição Celular e Longevidade – FACIS-IBEHE – Faculdade de Ciências da Saúde de São Paulo e Centro de Ensino Superior de Homeopatia;

Pós-graduação em Medicina Estética – Instituto Brasileiro de Pesquisa e Ensino – IBRAPE.

As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizada única e exclusivamente, para seu conhecimento.

Referências Bibliográficas:

*Alternative Therapy in Health & Medicine 2019. Endocannabinoid System & its Modulation by Cannabidiol (CBD).

*Acta Pharmacol Sinica 2019. Brain activity of anandamide: a rewarding bliss?

*Progress in Lipid Research 2018. 2-Arachidonoylglycerol: A signaling lipid with manifold actions in the brain.

*Progress in the Chemistry of Organic Natural Products 2017. Molecular Pharmacology of Phytocannabinoids.

*Neurotherapeutics 2015. The Endocannabinoid System & its Modulation by Phytocannabinoids.

*Cerebrum 2013. Getting High on the Endocannabinoid System.

*European J Neuroscience 2019. Modulatory effects of cannabinoids on brain neurotransmission.

*Surgical Neurology International 2018. Review of the neurological benefits of phytocannabinoids.

*Journal Dual Diagnosis 2019. Cannabis and Epilepsy.

*Current Psychiatry Reports 2019. Cannabinoid Regulation of Fear & Anxiety: an Update.

*Permanente Journal 2019. Cannabidiol in Anxiety & Sleep: A Large Case Series.

Nenhum comentário: