O chá
é uma das bebidas mais consumidas em todo mundo, com tradição oriental há mais
cinco séculos, e o seu uso está associado de forma terapêutica, na prevenção e
tratamento de doenças. Estudos epidemiológicos demonstram menor incidência de
câncer nos países asiáticos, onde o hábito da ingestão de chás é tradição.
O chá
verde é obtido a partir da infusão das folhas da Camellia sinensis, nome
científico da planta. Das folhas de Camellia sinensis também são produzidos o chá preto (folhas
maceradas, fermentadas- ricas em teoflavinas), e o chá oolong (fermentação
rápida da parte tenra das folhas, ricos em catequinas). O chá verde tem suas folhas
aquecidas e secas, com preservação dos polifenóis, inativação de alguns
compostos oxidativos e enzimas; já o chá branco é elaborado a partir do broto
da Camellia sinensis e não passa por processos de aquecimento.
Origem do chá verde e hábitos de consumo – nome
científico – funções terapêuticas Apresenta características nutricionais ricas
em polifenóis, flavonoides e catequinas, sendo que esta última corresponde a
26%, sendo seu principal composto a galato-3-epigalocatequina (EGCG). Estudos
in vitro, em animais e humanos, relata que o consumo do chá verde desempenha um
papel importante contra o estresse oxidativo (combatem os radicais livres),
atividade antioxidante, redução do risco de doenças cardiovasculares,
anti-hipertensivo, termogênico, proteção contra a radiação solar, quimioprotetora,
anticarcinogênico e anti-inflamatório.
O que é o câncer – a doença e a
importância do acompanhamento nutricional
O Instituto Nacional do Câncer (INCA) define
o câncer como uma enfermidade que se caracteriza pelo crescimento
descontrolado, rápido e invasivo de células com alteração em seu material
genético (DNA), podendo ser originado por diversos fatores, externos (meio
ambiente, hábitos ou costumes sociais e culturais), como internas
(hereditariedade). A agressividade e a localização do tumor, os órgãos
envolvidos, as condições clínicas, imunológicas e nutricionais impostas pela
doença são fatores determinantes para a condução do tratamento e cura. Cerca de
60% dos pacientes com câncer são desnutridos, aproximadamente 70% apresenta
alguma dificuldade para se alimentar, necessitando de aconselhamento e
acompanhamento nutricional e controle dos sintomas que interferem na ingestão e
absorção dos alimentos. As estatísticas mostram que, durante o tratamento, mais
de 90% dos pacientes perdem peso, 70% apresentam anorexia, 33% transtornos
gastrointestinais, 40% disgeusia e disfagia (dificuldade de engolir os
alimentos). Estes dados mostram a importância do acompanhamento nutricional em
todos os aspectos do tratamento do câncer.
Relação Chá Verde X Câncer: a prevenção
As pesquisas científicas vêm explorando amplamente
a ação dos compostos ativos do chá verde (ECGC) na prevenção do câncer, obtendo
resultados positivos e promissores, como a redução da inflamação sistêmica,
programação da morte de células pré-tumorais, redução das espécies reativas de
oxigênio (os radicais livres, que em excesso, lesionam os tecidos e órgãos,
prejudicando seu funcionamento). No trabalho de Nakachi K et al, os autores
observaram que o consumo habitual de chá verde pode melhorar a qualidade de
vida do ser humano, protegendo contra morte prematura e contra o câncer.
Zhang et al relataram que o risco de câncer de
ovário diminui com a crescente e frequente ingestão do chá verde, atuando
também com agente quimiopreventivo eficaz no câncer de próstata. Estudo feito
no Canadá, com mais de 69 mil mulheres, demonstrou que as que consumiam chá
verde mais de três vezes na semana e mantinham hábitos saudáveis de vida,
tiveram proteção contra o câncer de cólon, de estômago e garganta, do que as
que não consumiam o chá.
Tratamento: Seus principais efeitos
relatados na literatura são:
- Redução do crescimento celular por inibição do IGF-1 (agente de estímulo para crescimento celular) e programação de morte das células tumorais;
- Ação antioxidante (supressão do fator de transcrição NFkB, diminuindo a ação inflamatória);
- Inibição da angiogênese, que é a inibição de formação de novos vasos sanguíneos utilizados pelo tumor em crescimento para a obtenção de nutrientes, e inibição da matriz metaloproteinase (ou seja, faz com que enfraqueça as estruturas protéicas das células cancerígenas).
Rosengren relata que as catequinas do chá verde
podem reduzir a proliferação de células de câncer de mama in vitro,
demonstrando que a combinação de EGCG potencializa a ação da medicação
tamofixeno, promovendo efeito citotóxico (morte) para as células cancerígenas.
Esses resultados sugerem que as catequinas do chá verde têm potencial significativo
no tratamento do câncer de mama em estudos experimentais. Outros estudos
demonstraram que o tratamento com EGCG diminuía a viabilidade de células
mamárias cancerígenas, modulando os receptores de estrogênio, sem efeito no
crescimento das células mamárias saudáveis. O consumo do chá verde foi
associado inversamente com a taxa de recorrência (retorno) do câncer de mama em
mulheres japoneses diagnosticadas com o câncer. Surh verificou que a inativação
de NFkB promovida pela EGCG suprimiu a proliferação em células malignas em
câncer de pele de ratos, e de mama nos ratos e em humanos. A utilização do chá
verde em ratos com câncer oral submetido à radioterapia inibiu
significativamente a morte por radiação de queratinócitos e diminuição da
produção de muco, sendo eficaz na prevenção da mucosite induzida pela radiação.
Fotoproteção oral
O chá verde tem comprovados efeitos de combate aos
radicais livres na pele devido à exposição aos raios UV. E associado aos
fotoprotetores físicos e outros cuidados, pode ajudar a prevenir o
envelhecimento cutâneo, a imunossupressão e o melanoma. Consulte sempre seu
dermatologista, ok?
Melhor forma de preparo e consumo
A concentração de catequinas no chá verde varia de
acordo com a preparação do chá e origem da planta, mas de forma geral, o chá
verde preparado em proporção de 1g de folhas secas para 100 ml de água
(pré-fervente), por 3 minutos, contém cerca de 35-45mg / 100 ml de catequinas e
6mg / 100ml de cafeína, dentre outros componentes. O ideal é nunca deixar ferver
a água, como também não reaquecer o chá, para que seus componentes bioativos
sejam mantidos. A utilização mais efetiva é preparar o chá com a própria erva,
uma vez que o chá do saquinho leva à perda das substâncias ativas da planta,
contendo uma mistura da folha com o caule, o que diminui a concentração do
nutriente. E vale de caixinha e os enlatados? Saiba a resposta aqui: Por ter
cafeína, deve-se ter um cuidado no horário da ingestão, pois pode alterar a
qualidade do sono, podendo causar agitação, bem como, não ser tomado logo após
às refeições, pois podem prejudicar a absorção de nutrientes, como ferro e
vitamina C pelo organismo. O sabor e o aroma do chá verde estão diretamente
associados às catequinas, as quais apresentam sabor adstringente e amargo
(polifenóis). Por apresentar um sabor amargo bem acentuado, pode ser utilizadas
estratégias como a associação de outros ingredientes para amenizar o sabor,
como frutas, mel, gelatina. Já experimentou ferver a água com pedaços da raiz
de gengibre e pau de canela? Além de aromatizá-lo, você ainda dá um maior poder
termogênico pela sinergia dos componentes. Mesmo com a falta de estudos
envolvendo humanos, o chá verde vem demonstrando um potente fitoterápico para a
prevenção e no tratamento do câncer. Sob forma de infusão, alguns autores
sugerem o consumo crônico do chá verde, já outros, a ingestão de 1200ml
diários, correspondendo em média 250mg de catequinas, a fim de minimizar o
risco de câncer. Mesmo assim, é necessário mais pesquisas, envolvendo principalmente
humanos e o uso desta sob forma de infusão, e a quantidade sugerida como
protetora.
Chá infusão ou suplementação?
A maioria dos estudos epidemiológicos utiliza a
forma de infusão do chá verde no controle do estudo, porém, no estudo de
Yamamoto, foi observado que os polifenóis do chá verde podem ser suplementados
para aumentar a eficácia da terapia de radiação/quimioterapia para promover a
morte de células de câncer, enquanto protege células normais. Deve-se sempre
ter atenção na suplementação de compostos bioativos, sendo que estes devem ter
a orientação e acompanhamento de um médico e de um nutricionista!!!
Conclusão
Os estudos experimentais (animais e células)
indicam uma ampla atividade de prevenção de câncer (como o de mama, de boca,
colorretal e próstata) em diferentes órgãos. Resultados em humanos ainda não são
consistentes, uma vez que estes estudos podem ser afetados pela falta de
precisão na medição da quantidade de chá, dos diferentes fatores etiológicos do
câncer, e das diferenças individuais de cada um, associado ao estilo de vida.
Vale ressaltar que a dieta como um todo deve ser mudada, pois de nada adianta
apenas acrescentar o chá verde na alimentação sem mudar os comportamentos
inadequados no estilo de vida!
Texto
elaborado por: Priscila
Di Ciero
Nutricionista
formada em 2001, sou pós-graduada em Nutrição Esportiva Funcional e
estou em formação para obtenção da certificação do Functional Medicine
Institute (USA). Sou self e professional Coach formada pelo IBC
e certificada pelo Internacional Society of Sports Nutrition (USA).
Atualmente curso pós-graduação em Fitoterapia e atendo em consultório
particular na zona sul de São Paulo (SP).
As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento
presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas,
psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente,
para seu conhecimento.
Referências
Bibliográficas:
Brasil. Ministério da Saúde.
Instituto Nacional de Câncer. Consenso nacional de nutrição oncológica. /
Instituto Nacional de Câncer. – Rio de Janeiro: INCA, 2009 Grenteski, J.
Chá verde na prevenção do
câncer. Monografia do Programa de Nutrição Clínica Ganep para obtenção do
título de especialista em Nutrição Clínica. Curitiba, 2010. Schmitz, WO et al.
Atividade hepatoprotetora do extrato alcóolico da Camellia sinensis (chá verde)
em ratos wistar tratados com dietilnitrosamina. Revista Brasileira de Farmacognosia, 19(3): 702-709,
Jul/Set, 2009.
Cabrera, C, Artacho, R, Gimenez, R. Beneficial
effects of green tea – A review. Journal of the American College of Nutrition,
v. 25, n.2, 79-99, 2006.
INCA – Instituto Nacional do
Câncer (Brasil). Consenso Nacional de Nutrição Oncológica. Volume 2. Instituto
Nacional do Câncer. Coordenação Geral de Gestão Assistencial. Hospital do
Câncer. Serviço de Nutrição e Dietética – Rio de Janeiro: INCA, 2011.
Oliveira, D, Marques, N.
Fitoterápicos e Câncer. In: Paschoal, V, Naves, A, Sant’anna, V. Nutrição
Clínica Funcional: Câncer. Valéria Paschoal Editora Ltda, Coleção Nutrição
Clínica Funcional, São Paulo, 2012.
Senger, AEV et al. Chá
verde (Camellia sinensis) e suas propriedades funcionais nas doenças crônicas
não transmissíveis. Scientia Medica (Porto Alegre); volume 20, número 4, p.
292-300, 2010.
Nakachi, K, Eguchi, H, Imai, K. Can tea time increase
one’s lifetime? Ageing res rev. 2:1-10, 2003.
Rosengren, RJ. Catechins and the treatment of breast
cancer: possible utility and mechanistic targets. Drugs, 6: 1073-8, 2003.
Inoue M et al.
Regular consumption of green tea and the risk of breast cancer recurrence:
follow-up study from the hospital-based epidemiology research. Japan Cancer
Lett, 167:175-82, 2001.
Surh, YJ.
Transcription factors in 9the cellular signaling network as prime targets of
chemopreventive phytochemicals. Cancer Res Treat; 36(5): 275-286, 2004.
Yamamoto T et al. Green tea polyphenols causes
differential oxidative environments in tumor versus normal epithelial cells. J
Pharmacol Exp Ther, 301:230-6, 2003.
Gu, Jian-Wei et al. EGCG, a major gree tea
catechin suppresses breast tumor angiogenesis and growth via inhibiting the
activation of HIF-1 and NFkB, and VEGF expression. Vascular Cell, 5:9, 2013.
Shin YS, Shin HA, Kang SU, Kim JH, Oh Y-T, et
al. (2013) Effect of Epicatechin against Radiation-Induced Oral Mucositis: In
Vitro and In Vivo Study. PLoSONE 8(7): e69151.
Nenhum comentário:
Postar um comentário