Nesse
momento de pandemia em que observamos na mídia informações de todos os tipos
sobre alimentação e nutrição visando não apenas prevenir como curar aqueles que
contraíram o novo coronavírus (COVID-19), nosso propósito ao escrever esse
artigo é trazer conhecimentos científicos que possam servir de guia para a
população sobre escolhas de alimentos que possam de alguma forma auxiliar o
organismo a enfrentar esse problema. É importante, entretanto, que fique claro
que nada vai acontecer de um dia para o outro, mas que a médio prazo poderá sim
ajudar.
Comecemos
então pelo sistema imune, que é constituído por um conjunto de células que
protegem o organismo contra qualquer microrganismo ou substância não
reconhecida que poderia causar algum malefício. Pois bem, a nutrição pode
modular (interferir) a resposta imune. Quando o indivíduo tem hábitos
alimentares saudáveis, ingerindo os nutrientes de que necessita de acordo com
sua fase de vida, principalmente os micronutrientes (minerais e vitaminas) e
compostos bioativos encontrados em alguns alimentos (estudos vem demonstrando
suas ações na redução do risco de doenças), seu sistema imune estará mais preparado
para vencer essa pandemia. Dentre os micronutrientes que teriam papel mais
relevante nesse sentido podemos citar: o zinco (Zn), as vitaminas A e D, o
selênio (Se) e a vitamina C, entretanto, sem deixar de considerar todos os
demais nutrientes que podem afetar o estado nutricional de cada indivíduo.
Zinco: O Zn possui inúmeras funções no organismo, além da sua grande importância no sistema imune. Atua ainda no transporte de vitamina A, pois a proteína responsável por essa função é dependente de Zn. As melhores fontes alimentares são: mariscos (a ostra em especial), carnes vermelhas, vísceras, fígado, peixes, ovos, cereais integrais. A deficiência de Zn compromete o sistema imune, mas vale ressaltar que doses elevadas também são prejudiciais. A recomendação de ingestão diária para adultos e idosos é de 8 miligramas para mulheres e de 11 miligramas para homens, o limite máximo tolerável de ingestão é de 40 miligramas por dia, acima deste existe a possibilidade de efeitos adversos. No quadro abaixo pode-se observar os valores encontrados em alguns alimentos.
Vitamina
A: É
outro nutriente com importante função imunomoduladora. Pode ser encontrada
pré-formada, já na sua forma ativa, chamada de retinol, presente em alimentos
do reino animal e nos precursores carotenoides provenientes dos vegetais.
Ressalta-se que a biodisponibilidade (capacidade de ser utilizada pelo
organismo) é bem menor quando proveniente dos carotenoides. As recomendações de
ingestão são denominadas de equivalentes em retinol, exatamente devido a
necessidade de expressar a bioequivalência dos carotenoides para retinol. Os
alimentos mais ricos são o fígado, óleos de fígado de peixes (ex. bacalhau) e
os vegetais verdes escuros e alaranjados. Ressalta-se que como as demais
vitaminas lipossolúveis da dieta, o excesso pode se tornar tóxico, e muito
cuidado com os idosos (principalmente se apresentarem comprometimento renal). A
ingestão diária recomendada de Vitamina A é de 900 microgramas para homens e
700 microgramas para mulheres. O limite superior para ambos é de 3000
microgramas de Vitamina A. Na tabela abaixo, exemplos de quantidades de
vitamina A encontradas nos alimentos.
Vitamina
D: Outro
nutriente de grande importância que pode contribuir com o sistema imune, embora
sem esquecer de sua função primordial no tecido ósseo. A principal fonte é a
exposição aos raios solares UV-B, que tornam possível a síntese pela pele
humana. Outras fontes naturais são os óleos de fígado de peixes, e os alimentos
fortificados. Recentemente foi divulgado na imprensa que a maioria dos
indivíduos que contraíram a COVID-19 eram deficientes nessa vitamina, isso era
de se esperar, uma vez que os idosos, devido a menor exposição solar,
principalmente após invernos rigorosos e pele mais ressecada, têm síntese
diminuída. As recomendações diárias para adultos e idosos é de 600 UI (15
microgramas) e o limite superior é de 4000 UI. Na tabela abaixo os alimentos
mais ricos em vitamina D:
Selênio: Outro
elemento muito importante, mas nesse caso principalmente por seu poder
antioxidante, embora também tenha ação no sistema imune. O Se age em conjunto
com a vitamina E, e ambos, podem proteger as membranas das células contra a
peroxidação lipídica. Salientando que o organismo precisa manter o estado
nutricional adequado em relação a esse nutriente, sem excessos, porque
quantidades elevadas, principalmente quando o indivíduo não necessita, podem
levar a efeitos adversos. A recomendação para adultos e idosos é de 55 microgramas/dia,
e o valor máximo tolerado é de 400 microgramas/dia. A castanha do Brasil é o
alimento mais rico em Se, mas não deve ser ingerida em excesso, somente 1 ao
dia ou dependendo da proveniência (ex. Manaus) 1 a cada 3 dias. Demais
alimentos, podem apresentar valores variáveis em função do teor desse elemento
no solo, e da alimentação de animais de criação para consumo humano. Na tabela
abaixo disponibilizamos os valores de alguns alimentos.
Vitamina
C: É o
mais importante antioxidante do organismo em meio aquoso, e muito estudada com
inúmeras indicações para redução do risco e até cura de doenças, principalmente
do trato respiratório, mas sem comprovação científica robusta. Seu consumo,
entretanto, tem demonstrado que poderia ser um fator auxiliar para diminuição
do tempo de duração dos episódios infecciosos. A recomendação de ingestão
diária para adultos e idosos é de 75 miligramas para mulheres e 90 miligramas
para homens, com valores aumentados para fumantes (95 miligramas). Embora sem
efeitos tóxicos evidentes, por ter seu excesso eliminado, quantidades muito
acima das recomendadas (2,5 - 3,0 gramas) podem causar desconforto intestinal
(diarreia osmótica) e além disso alterar resultados de exames (ex. diabéticos).
Frutos em geral, contribuem para fornecer as quantidades necessárias para sua
ação. Na tabela abaixo, valores de Vitamina C em frutas.
Coronavírus
e Idosos
Idosos
em geral possuem um sistema imune mais deprimido, por várias razões que podemos
enumerar:
1) Em geral consomem dietas desbalanceadas pela dificuldade de aquisição dos alimentos, preparo, poder econômico, convívio social, próteses dentárias mal ajustadas, dentre outros, levando a maior monotonia na alimentação.
3) Como consequência, o idoso está mais sujeito a doenças, não apenas as infecciosas, mas também as doenças crônicas, como obesidade, diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares e câncer, o que exige maior consumo de medicamentos (polifarmácia). Obviamente, nesta situação o idoso estará com seu sistema imune debilitado. Poderíamos também levantar a questão da microbiota, que devido ao uso excessivo de medicamentos, por exemplo, antibióticos, poderia causar uma disbiose, ou seja, uma diminuição de micro-organismos considerados benéficos e desequilíbrio desse sistema. Portanto existe um ciclo vicioso, que para ser mudado, a alimentação adequada é imprescindível.
Assim, o que fazer no momento para auxiliar e fortalecer o sistema imune? A médio prazo e com orientação nutricional adequada isso será possível, e a recomendação, principalmente para os indivíduos idosos, é que façam uso de suplementos vitamínicos e minerais que contenham doses baixas, próximas das recomendações de ingestão, porque certamente poderá auxiliar a melhorar o estado nutricional geral. Associado a essa suplementação, recomenda-se uma alimentação equilibrada e de acordo com o hábito alimentar nacional, que inclui o arroz com feijão, as carnes em geral, leite e derivados, ovos, vegetais folhosos e hortaliças, frutas variadas, diversificando dentro dos grupos, ingerindo quantidades adequadas de água (30-40 mililitros por quilograma de peso corporal), evitando açúcares simples (de adição), muito sal, e alimentos muito gordurosos. Se tiver dificuldade o nutricionista é o profissional mais indicado para uma orientação de forma individualizada. Desta maneira, o organismo estará mais protegido não apenas para enfrentar o coronavírus, mas também para se defender de outras doenças.
As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas
por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos,
nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e
exclusivamente, para seu conhecimento.
Referências Bibliográficas:
1. Cozzolino,SMF. Biodisponibilidade de Nutrientes 5ed. 2015, Editora Manole,Barueri-SP.
2. Cominetti,C. & Cozzolino,SMF - Bases Bioquímicas e Fisiológicas da Nutrição: nas diferentes fases da vida, na saúde e na doença, 2ed 2020, 1378p. Editora Manole,Barueri-SP.
3. Institute of Medicine Dietary Reference Intakes: the essential guide to nutrient requirements. Washington: The National Academy Press; 2006
4. Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação – Nepa. Tabela Brasileira de Composição de Alimentos – Taco. 4. ed. 2017.
5. Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (TBCA). Universidade de São Paulo (USP). Food Research Center (FoRC). Versão 7.0. São Paulo, 2019. [Acesso em: 03042020 ]. Disponível em: http://www.fcf.usp.br/tbca
6. Cozzolino,
SMF.Covid-19 e o sistema imune: papel dos micronutrientes na alimentação. Centro de Pesquisa em Alimentos. Disponível em:
www.alimentossemmitos.com.br
Acessado em: 03/05/2020.
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