O
leite de vaca foi introduzido no Brasil em 1530, logo após a chegada dos
Portugueses, se espalhando em todo o Brasil rapidamente, sendo atualmente o
sexto país em maior produção de leite do mundo!
É um
alimento com alto teor de proteínas, e contém gorduras, vitaminas e minerais,
como o cálcio por exemplo.
Os
homens são os únicos seres que bebem leite após o desmame, sendo considerado um
dos alimentos mais versáteis por produzir: manteiga, inúmeros queijos,
iogurtes, creme de leite entre outros.
Após
a industrialização em massa e as tecnologias que aumentam o tempo de prateleira
dos alimentos, a agricultura que antes era a base da alimentação do brasileiro,
torna-se cada vez menos presente em sua rotina, obtendo com maior
disponibilidade produtos prontos para o consumo.
Associado
a essa facilidade, ainda há o mito que, para manter os níveis de cálcio sadio,
tem que necessariamente consumir leite e derivados, tornando o consumo destes
em grande quantidade e frequência, podendo gerar desequilíbrios no organismo.
E
na presença do câncer, quais são as evidências que a ciência nos traz sobre o
consumo do leite?
O
leite depois de ingerido, apesar de apresentar baixo Índice Glicêmico (que é o
quanto um determinado alimento pode aumentar a glicemia do sangue após ser
ingerido), no organismo ele faz com que haja uma liberação alta de insulina
(que é um hormônio responsável em colocar o açúcar do sangue para dentro das
células, e que também armazena gordura), podendo gerar, se em excesso,
resistência à ação da insulina (ou seja, a insulina não consegue mais fazer com
que o açúcar seja armazenado pelas células).
O
problema da resistência à insulina no organismo são as consequências que trazem
à nossa saúde, como diabetes, hipertensão arterial, dislipidemias, obesidade
abdominal, com alto risco de trombos, e risco para desenvolvimento de alguns
tipos de câncer, como o de próstata, mama e cólon.
O
leite, por ter esse efeito hiperinsulinêmico, estimula uma substância chamada
fator de crescimento IGF-1, cuja função é estimular o crescimento e a
multiplicação das células. Algumas proteínas presentes no leite também
estimulam outro hormônio chamado GH (hormônio do crescimento), o qual irá
estimular ainda mais a secreção de insulina. Por este motivo, o bebê é
amamentado para crescer, através da multiplicação das células e tecidos.
Na
presença do câncer, as células tumorais necessitam também de nutrientes que “as
nutrem” para que elas possam se multiplicar e, os níveis elevados destas
substâncias: IGF-1 e insulina irão estimular os mecanismos envolvidos no
surgimento e progressão do câncer.
Em
estudo de revisão de Melnik e colaboradores, apontam evidências epidemiológicas
no aumento do consumo de leite e derivados e um alto risco para o
desenvolvimento de câncer de próstata, cuja hipótese é que as proteínas dos
laticínios estimulam MTOR1, que é um agente de crescimento celular.
O
estímulo dessa sinalização promove crescimento e proliferação de células e
inibe a autofagia (ou seja, a morte) de células e tecidos. O mais interessante
é que esse estimulo é promovido pelo leite de vaca, mas não pelo leite humano,
pois esse último é oferecido apenas nos primeiros anos de vida. Com a ingestão
crônica do leite de vaca ao longo da vida, há um aumento na produção de
hormônios (insulina, IGF-1, GH, mTOR1) e, esta produção exacerbada durante a
fase de crescimento e desenvolvimento da próstata podem exercer desequilíbrios
a longo prazo na saúde da próstata.
Os
autores ainda citam que dieta semelhante ao paleolítico, com restrição da
ingestão de proteínas de leite, principalmente na fase de desenvolvimento da
próstata, pode oferecer proteção contra o câncer.
Kronke
et al, relata que a gordura de produtos lácteos é uma fonte de hormônios
estrogênicos, sendo associado ao risco de câncer de mama. Neste estudo, foram
avaliadas 1893 mulheres diagnosticadas com câncer de mama (1997-2000). Os
resultados obtidos demonstrou que a ingestão de laticínios ricos em gordura foi
relacionado com maior risco de mortalidade após o diagnóstico de câncer de
mama, pelo alto conteúdo de estrogênio, em relação ao laticínios com baixo teor
de gordura.
Van
der Pols et al. avaliaram o consumo de leite e derivados em crianças em um
período de 50 anos, e observaram que a ingestão frequente e elevada de produtos
lácteos na infância foi associado à um maior risco de câncer de cólon na vida
adulta.
Outras possibilidades
O
leite propriamente dito também pode apresentar níveis elevados de hormônio
estrógeno (secretado pela vaca durante a gestação e lactação, como também para
aumentar a produção de leite) e do IGF-1, os quais não são inativados durante o
processo de pasteurização, podendo aumentar os riscos do desenvolvimento do
câncer.
É
importante lembrar que, quando falamos de proteínas do leite, o Whey Protein,
que é um alimento feito a partir do soro do leite, apresentaria o mesmo efeito
e entra nesse conceito aqui que estamos abordando.
Mas, e o cálcio, nutri?
Apesar
do leite de vaca ser considerado uma das maiores fontes alimentares de cálcio,
não podemos afirmar o quanto deste é biodisponível no nosso organismo, ou seja,
o quanto desta quantidade de cálcio é absorvido no intestino e levado ao
sangue.
É
muito importante saber que outros alimentos são fontes de cálcio e com boa
absorção: vegetais folhosos verdes escuros, legumes e sementes como a de
gergelim, por exemplo.
Uma dieta equilibrada e orientada pelo Nutricionista (e
quando necessário, suplementada) irá prevenir problemas ósseos e deficiências
de Cálcio e de outros nutrientes.
Conclusão
O mais importante é que na alimentação haja uma grande variedade no consumo de alimentos, para prevenir possíveis desequilíbrios no organismo. E em caso de diagnóstico e tratamento para câncer, converse com seu Nutricionista e médico e reveja o consumo de leite e seus derivados em sua dieta.
Texto
elaborado pela nutricionista: Dra. Christiane Bergamasco
Formada
em Nutrição, há mais de 10 anos, com cursos de pós-graduação em Nutrição
Clínica , Funcional e Fisiologia do Exercício. Autora de publicações
científicas em livros e revistas, atuou em hospitais de primeira linha e também
como professora universitária e consultora em programas de TV e revistas.
As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por
atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos,
nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e
exclusivamente, para seu conhecimento.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Melnik BC et al. The impact of cow´s milk-mediated mTOR1 signaling in the initiation and progression of prostate cancer. Nutrition & Metabolism, 2012, 9:74.
Souza, NS. Leite e câncer. In:
Paschoal, V, Naves, A, Santa´nna, V. Nutrição Clínica Funcional: Câncer. São
Paulo: Valéria Paschoal Editora Ltda, 2012, pg 107-140.
Kroenke, CH et al. High- and low-fat dairy intake, recurrence, and
mortality after breast cancer diagnosis. Response. J Natl Cancer Inst. 2013 Nov
20; 105(22):1761-2.
Duarte DC. The effect of bovine milk lactoferrin on
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VAN DER POLS, JC et al. Childhood dairy intake and
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