Estima-se que há 34 milhões de pessoas
vivendo com HIV/AIDS em todo mundo, sendo que em 2011, houve 2,5 milhões de
novas infecções. Segundo o Ministério da Saúde, no Brasil existiam 656.701 casos
de AIDS notificados até o mês de junho de 2012.
Nota-se
que, a partir de 1995, houve um importante aumento na sobrevida de pessoas com
HIV/AIDS. Do mesmo modo, ocorreu a diminuição das taxas de morbidade e
mortalidade. Esses acontecimentos foram possíveis, porque na mesma data o
Ministério da Saúde iniciou a distribuição universal e gratuita dos
medicamentos antirretrovirais de alta atividade, que associa os inibidores da
protease (IP) e os inibidores da transcriptase reversa.
Os
fármacos antirretrovirais aumentaram o tempo de sobrevivência de pessoas
vivendo com HIV/AIDS, diminuindo a incidência de infecções respiratórias,
controle da replicação viral e da síndrome consumptiva, porém, o seu uso a
longo prazo trouxe efeitos colaterais, como anemia, vômitos, diarreia, náuseas,
diabetes mellitus, resistência à insulina, dislipidemias, diminuição do
colesterol (HDL), lipodistrofia, síndrome metabólica, obesidade e risco
aumentado para doenças cardiovasculares.
A
manutenção de um consumo alimentar e nutricional adequado às necessidades
energéticas, de macronutrientes (carboidrato, proteína e lipídio) e de
micronutrientes (vitaminas e minerais), contribui para a melhora dos níveis de
T CD4, a absorção intestinal e ameniza todas as outras intercorrências causadas
pelo tratamento. Em função disso, pode contribuir para a diminuição da
progressão da doença.
Desnutrição
A
infecção por HIV pode causar desnutrição por uma variedade de mecanismos, como
invasão das células gliais do sistema nervoso central, levando a demência ou a
neuropatia. Estas interferem com a ingestão alimentar via anorexia e disfagia.
Podem também ocorrer lesões anatômicas, como monilíase oral, que dificulta a
mastigação, além de esofagites ou monilíase esofágica e, ainda pode haver infecção
da mucosa intestinal causada por agentes oportunistas, como E. coli e C difficile, diminuindo a absorção de nutrientes e provocando
diarreia. A ocorrência de múltiplas infecções oportunistas conduz à rápida
depleção nutricional, por aumentar as necessidades metabólicas,
concomitantemente à redução da ingestão alimentar por anorexia e disfagia, além
da má absorção intestinal.
A
desnutrição em pacientes com AIDS, conhecida como Wasting Syndrome (Síndrome
Consumptiva), é caracterizada pela perda de peso involuntária maior que 10%. Em
geral, está associada à febre documentada por mais de 30 dias, fraqueza e
diarreia (> 2 evacuações/dia por mais que 30 dias). Há associação com
aumento da morbidade e da mortalidade e, maior susceptibilidade a infecções
oportunistas e tumores.
Avaliação
Nutricional
Na
avaliação nutricional é importante distinguir a lipodistrofia (alterações na
distribuição da gordura corporal) da Síndrome Consumptiva e ambas podem estar
combinadas. Para o diagnóstico da lipodistrofia consideram-se fatores físicos: lipoatrofia na região
da face, dos membros superiores e inferiores e uma proeminência das veias
superficiais associadas ou não ao acúmulo de gorduras na região do abdome, da
região cervical e da mamas. Fatores
metabólicos: aumento sérico de lipídios, intolerância à glicose, aumento da
resistência periférica à insulina e diabetes mellitus, associados ou não às
alterações anatômicas.
A
massa celular corporal é o principal compartimento da composição corporal
alterado em pessoas com HIV/AIDS, mesmo em uso de inibidores de protease. A
depleção grave da massa celular corporal é fator capaz de predizer mortalidade,
independente do peso corporal, do CD4 e da carga viral. A massa celular
corporal pode ser estimada pela impedância bioelétrica. O ângulo de fase,
estimado pela impedância bioelétrica, reflete alterações da condutibilidade da
corrente elétrica no corpo. Tais alterações indicam mudanças na integridade da
membrana celular, da função e da composição específica, incluindo modificações
no espaço intracelular. O ângulo de fase, a massa celular corporal e a sua
relação com o meio extracelular são marcadores independentes de prognóstico em
pacientes com HIV/AIDS. O valor de ângulo de fase alto, em pacientes que
estavam recebendo potente terapia antirretroviral (HAART), foi associado com
baixo risco de mortalidade, quando ajustado com a carga viral e a contagem de
CD4.
As medidas da Prega Cutânea do Tríceps
e da Circunferência do Braço frequentemente evidenciam déficit severo da
reserva adiposa em relação ao padrão para o sexo e idade nestes pacientes. A
área muscular do braço diminuída indica degradação da proteína muscular, que
ocorre juntamente com a depleção de potássio.
O método prático mais atual para
avaliação da redistribuição de gordura é a medida das circunferências de
cintura e quadril, com cálculo da razão cintura-quadril, considerando-se que
valores acima de 0,85 para mulheres e acima de 0,95 para homens podem ser
indicativos de lipodistrofia e taxas maiores aumentam o risco para diabetes e
doença cardiovascular.
Incluir
o mínimo de testes bioquímicos como albumina, contagem total de linfócitos,
CD4, CD8, carga viral, dosagem de testosterona, avaliação das funções renal e
hepática, concentração sérica de eletrólitos, zinco, selênio, vitamina A e
vitamina B12 estão associados com a progressão da doença.
As informações contidas
neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos
profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos,
educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu
conhecimento.
Referências
Bibliográficas:
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Imunodeficiência Adquirida. Rev. Nutr 2003, v.16, n.4, p.461-470.
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(HIV/AIDS). Projeto Diretrizes -Associação Médica Brasileira e Conselho Federal
de Medicina.
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Jaime, PC. Evolução de parâmetros antropométricos em portadores do vírus da
Imunodeficiência Humana ou com Síndrome da Imunodeficiência Adquirida: um
estudo prospectivo. Rev Nutr. 2010, v.23, n.1, p.57-64.
Simonelli,
CG; Silva, RC. Avaliação nutricional de pacientes vivendo com HIV/AIDS. Rev
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