DEFINIÇÃO
DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA
A
insuficiência cardíaca (IC) é uma síndrome clínica ocasionada por uma
anormalidade da função do coração em bombear e/ou em acomodar o retorno sanguíneo,
não atendendo às necessidades de oxigênio dos tecidos. A IC é um problema grave
e crescente de saúde pública em todo o mundo, sendo a via final comum da
maioria das cardiopatias. A classificação da insuficiência cardíaca auxilia na
compreensão da evolução da doença e direção do tratamento
Quadro 1. Classificação da insuficiência
cardíaca baseada na progressão da doença
Estágio A
|
Inclui pacientes sob risco de desenvolver insuficiência
cardíaca, mas ainda sem doença estrutural perceptível e sem sintomas
atribuíveis à insuficiência cardíaca.
|
Pacientes com indicação
de intervenções predominantemente preventivas
|
Estágio B
|
Pacientes que adquiriram lesão estrutural cardíaca, mas ainda
sem sintomas atribuíveis à insuficiência cardíaca.
|
|
Estágio C
|
Pacientes com lesão estrutural cardíaca e sintomas atuais ou
pregressos de insuficiência cardíaca
|
Paciente com indicação terapêutica
|
Estágio D
|
Pacientes com sintomas refratários ao tratamento
|
Pacientes para procedimentos especializados e cuidados paliativos
|
Classificação
da insuficiência cardíaca baseada em sintomas segundo a New York Heart Association (NYHA):
● Classe I: Ausência
de dispneia durante atividades cotidianas. A limitação para esforços é
semelhante à esperada em indivíduos normais
● Classe II: Sintomas desencadeados por
atividades cotidianas.
● Classe III: Sintomas desencadeados em
atividades menos intensas que as cotidianas ou pequenos esforços.
● Classe IV: Sintomas em repouso.
COMPROMETIMENTO DO ESTADO NUTRICIONAL
São frequentes os pacientes com IC avançada desenvolver quadros
variáveis de desnutrição, que pode esta associado à ingestão alimentar inadequada
e ao aumento do metabolismo, evoluindo frequentemente para caquexia cardíaca, o
edema das alças intestinais pode ser responsável pela presença de náuseas, má
absorção de lipídios, sensação de plenitude gástrica e de perdas proteicas.
A prevalência da caquexia em pacientes com
insuficiência cardíaca crônica é de 16%, sendo definida como a perda de peso
não intencional mais de 7,5% em 6 meses ou mais, e cerca de 14% quando o
IMC inferior a 20 kg / m2.
A abordagem não farmacológica e não cirúrgica no
tratamento de pacientes com IC tem se mostrado bastante útil para auxiliar o
gerenciamento dos sintomas, reduzir o número de reinternações e melhorar a
qualidade de vida.
RECOMENDAÇÃO NUTRICIONAL
Calorias:
·
28 kcal/kg de peso para pacientes com estado
nutricional adequado e 32 kcal/kg de peso para pacientes nutricionalmente
depletados (considera-se o peso do paciente sem edemas).
Carboidratos:
·
De 50 a 55% da ingestão energética,
priorizando os carboidratos integrais com baixa carga glicêmica, evitando os
refinados (açúcar), por agravar a resistência à insulina.
Lipídeos:
·
De 30 a 35%, com ênfase às gorduras mono e poli-insaturadas,
em especial aos ácidos graxos da série ômega-3, e níveis reduzidos de gorduras
saturadas e trans.
Proteínas:
·
De 15 a 20% do valor calórico total da dieta,
priorizando as proteínas de alto valor biológico.
Sódio:
·
De 2 a 3g/dia nos estágios mais avançados da
doença.
Líquido:
·
A restrição deve ser de acordo com a condição
clínica do paciente.
Suplemento Nutricional:
·
Indicado nos pacientes com baixa ingestão
alimentar, má absorção de nutrientes e em estado de hipercatabolismo. Nos casos
de anorexia, ofertar refeições pequenas com alta densidade calórica e proteica.
Se a ingestão oral estiver abaixo de 60%, a introdução de fórmula via enteral é
indicado.
Fracionamento da dieta:
·
Para evitar sobrecarga prandial e uma melhor
absorção dos nutrientes é importante oferecer uma dieta com volume reduzido e
fracionamento aumentado (6 a 8 refeições/dia).
Consistência da dieta:
·
Em caso de dispneia, disfagia, odinafagia e
dificuldade mastigatória a consistência necessita de modificação.
TRANSPLANTE
CARDIACO
O transplante cardíaco (Tx C)
representa um dos mais revolucionários avanços da medicina. Constitui
modalidade de tratamento de escolha para os pacientes portadores de insuficiência
cardíaca (IC) refrataria, classes III ou IV (NYHA), com sintomas
incapacitantes, ou alto risco de morte dentro de um ano, sem possibilidade de alternativa
de tratamento clínico ou cirúrgico.
No dia 26 de maio de 1968, Zerbini e Decourt realizaram o
1o transplante cardíaco da América Latina e o 17º no mundo em um paciente portador
de miocardiopatia dilatada. Dois outros pacientes foram operados, um deles com
sobrevida superior a um ano.
O desconhecimento técnico sobre a rejeição e a ausência
de medicações eficazes para seu controle, associada a complicações infecciosas levaram
a crescente descrédito do procedimento em virtude de resultados desfavoráveis.
Os anos que se seguiram foram marcados pela redução do
número de transplantes e dos centros que mantinham seus programas ativos. A
década de 70 destacou-se no desenvolvimento de medicamentos capazes de
controlar os processos de rejeição. Com a introdução da ciclosporina na década
de 80 pôde-se constatar melhora na sobrevida dos pacientes para 80,7% no
primeiro ano e 59,7% no quinto ano após a operação.
TERAPIA NUTRICIONAL PRÉ
TRANPLANTE
·
Seguir as recomendações
nutricionais para insuficiência cardíaca;
· Manter ou melhorar o estado
nutricional através da interrupção ou redução do hipercatabolismo;
· Em pacientes obesos é indicado
perda de peso gradativa, de forma a prevenir a desnutrição e/ou sarcopenia.
TERAPIA NUTRICIONAL PÓS TRANSPLANTE
IMEDIATO
Nesta fase o hipercatabolismo é maior sendo
necessário o aumento da oferta calórica e proteica, para isso deve-se considerar
o uso de suplemento nutricionais completos e/ou modulares em caso de baixa
ingestão alimentar ou até a terapia nutricional enteral ou parenteral,
fornecendo substrato suficiente para o organismo realizar a cicatrização e
melhorar a resposta imunológica para prevenir possíveis processos infecciosos.
Nas primeiras semanas a imunossupressão é
intensa exigindo medidas rígidas de controle de qualidade na produção alimentar
nas cozinhas que produzem grande volume de alimento e, como medida profilática
é indicada a restrição do consumo de hortaliças, legumes e frutas cruas, suco
fresco, queijo fresco.
TERAPIA NUTRICIONAL PÓS
TRANPLANTE TARDIO
Após a realização do transplante cardíaco é necessário
iniciar a terapia imunossupressora para evitar a rejeição no enxerto (coração),
no entanto, ao mesmo tempo em que essas medicações trazem benefícios, podem
também causar efeitos colaterais. A prevalência em cinco anos pós-transplante
foi de 94% para hipertensão arterial sistêmica (HAS), 85% para dislipidemia
(DLP) e 33% para diabetes (DM).
Quadro 2. Efeitos colaterais
decorrente do uso de imunossupressores
MEDICAMENTO
|
EFEITO COLATERAL
|
Ciclosporina
|
hipertensão, hipercalemia, insuficiência renal, necrose tubular
renal, insuficiência hepática.
|
Ciclosporina e
Tracolimus
|
diabetes,
dislipidemia, insuficiência renal, hipertensão.
|
Altas
doses de
corticosteroides
|
distúrbios
eletrolíticos, hipertensão, intolerância à glicose,
osteoporose,
obesidade.
|
O ganho significativo de
peso é bastante descrito em pacientes submetidos a transplantes de órgãos, em
média, tais pacientes ganham cerca de 10 kg no primeiro ano após o
procedimento, aumentando os riscos de desenvolvimento de doenças secundárias
como hipertensão, diabetes e dislipidemias.
No pós-transplante tardio, a
dieta deve ser cardioprotetora, a fim de evitar futuros problemas
cardiovasculares, onde é recomendado seguir as seguintes orientações:
·
Evitar o aumento excessivo de peso, que pode
ocasionar a sobrecarga do enxerto;
·
Prevenir a hipercolesterolemia com ingestão
controlada de colesterol e gordura saturada;
·
Aumentar a ingestão de gorduras mono e poli-insaturadas;
·
Evitar alimentos embutidos;
·
Aumentar a ingestão de alimentos ricos em
ômega 3;
·
Restrição do consumo excessivo de sódio e
alimentos ricos em sódio;
·
Limitar o consumo de carboidratos a fim de
manter níveis adequados de glicemia capilar, já que o tratamento com corticoide
está associada com aumento da glicemia, sendo necessário eventualmente tratamento
com hipoglicemiante oral ou insulina.
·
Durante os primeiros seis meses após o
transplante é considerado o período de maior risco de contaminação, devendo
seguir a recomendação de não ingerir alimentos crus.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Os cuidados com o paciente
no pré-transplante tem como principal objetivo preparar o receptor para o novo
órgão, já que a desnutrição no candidato ao transplante é muito comum e está
associada com aumento da morbidade e mortalidade, após a realização do
transplante deve-se atentar a prevenção e tratamento das complicações
metabólicas decorrente do uso continuo dos imunossupressores, portanto o
acompanhamento nutricional é importante e deve fazer parte da rotina de
consultas do paciente desde o diagnóstico de Insuficiência Cardíaca.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS:
2 III Diretriz Brasileira de Insuficiência Cardíaca Crônica.
3 Pérez FJ., et al. Manejo nutricional del paciente trasplantado de corazónRev Cubana CardiolCirCardiovasc. 2012; 18(2): 86-94.
4
Bocchi EA, Cruz F, Guimarães G, Moreira LFP,
Issa VS, Ferreira SMA, et al. A
long-term rospective randomized controlled study using repetitive education at
six-month intervals and monitoring for adherence in heart failure patients: the
REMADHE study. Circulation. 2008.
5 Horwich TB, Fonarow GC, Hamilton MA, MacLellan WR, Woo
MA, Tillisch JH. The relationship
between obesity and mortality in patients with heart failure. J Am
Coll Cardiol. 2001; 38(3):789-95.
6 Guimarães
JI, Mesquita ET, Bocchi EA, Vilas-Boas F, Montera MW, Moreira MCV, et al.
Revisão das II Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia para o
diagnóstico e tratamento da insuficiência cardíaca. Arq Bras Cardiol. 2002; 79
(supl 4): 3-30.
7
II Diretriz
Brasileira de Transplante Cardíaco.
8
Fiorelli AI, Coelho HB, Oliveira Junior JL, Oliveira AS. Insuficiência
cardíaca e transplante cardíaco.RevMed (São Paulo). 2008
abr.-jun.;87(2):105-20.
9
Grady
KL, Costanzo MR, Fisher S, Koch D. Preoperative obesity is associated with
decreased survival after heart transplantation. J Heart Lung Transplant. 1996;
15: 863-71.
10 Williams
JJ, Lund LH, LaManca J, Kunavarapu C, Cohen DJ, Heshka S, et al. Excessive weight gain in cardiac transplant
recipients. J Heart Lung Transplant. 2001; 25: 36-41.
11 Johnson DW,
Isbel NM, Brown AM, Kay TD, Franzen K, Hawley CM, et al. The effect of obesity
on renal transplant outcomes. Transplantation. 2002; 74: 60-1.
Texto elaborado por:
Nutricionista Camila R. L. Campos – Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia - puccazinha@hotmail.com
Nutricionista Lenita Borba – Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia – lenitagb@yahoo.com.br
Nutricionista Camila R. L. Campos – Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia - puccazinha@hotmail.com
Nutricionista Lenita Borba – Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia – lenitagb@yahoo.com.br
As informações
contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos
profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores
físicos e etc. e sim, utilizada única e exclusivamente, para seu conhecimento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário