domingo, 8 de maio de 2016

Vitamina D (Calciferol)






Um número significativo de pesquisadores tem sugerido que a vitamina D (calciferol) não deveria ser considerada uma vitamina, mas sim um pró-hormônio. A vitamina D é sintetizada na pele por via não enzimática por ação dos raios UV – radiação B, porém, se a exposição do indivíduo à luz não for adequada, é essencial que a vitamina seja fornecida pela fonte alimentar. As formas de vitamina D disponíveis na natureza são o ergocalciferol (vitamina D2) e o colecalciferol (vitamina D3). Entretanto, quando não se especifica a fonte para a vitamina D, se entende que esta pode representar uma mistura das duas. A vitamina D, para desempenhar sua função, necessita ser transformada em seu metabólito ativo 1,25(OH)2D3 (1,25 dihidroxicolicalciferol), também conhecido como calcitriol.


         A forma ativa é essencial para o crescimento e o desenvolvimento normais e importantes na formação de dentes e ossos. Acredita-se que induza à formação de proteínas transportadoras de cálcio e fósforo. Tem papel na manutenção dos níveis séricos de cálcio e fósforo para possibilitar a mineralização óssea. O 1,25(OH)2D3 possui ainda as seguintes funções: estimular a absorção ativa do cálcio, estimular o sistema de transporte ativo de fosfato no intestino; mobilizar o cálcio e o fosfato do osso para manter os níveis séricos de cálcio e fósforo adequados; aumentar a reabsorção renal de cálcio e fosfato.

Absorção, Transporte, Armazenamento e Biodisponibilidade

            A vitamina D pode ser adquirida pré-formada pela ingestão ou pela exposição ao sol. É formada no organismo pela ação da luz solar (raios ultravioleta) sobre o 7-deidrocolesterol na pele.

            É absorvida no intestino com os lipídios, auxiliada pela bile. É transportada na corrente sanguínea ligada à proteína plasmática de ligação da vitamina D (PLD) até o fígado e transformada na forma ativa. O 1,25(OH)2D3 é uma hormônio esterol formado a partir da vitamina D (colecalciferol), após hidroxilação no fígado (no carbono 25) e nos rins (no carbono 1). A vitamina D é armazenada no fígado, na pele, no cérebro e nos ossos.

            Como a vitamina D é lipossolúvel, quando ingerida, é incorporada aos quilomícrons e absorvida pelo sistema linfático. O local de absorção é maior no intestino delgado e estima-se que cerca de 80% da vitamina D seja absorvida. Portanto, pode-se considerar que não há problemas de biodisponibilidade em indivíduos saudáveis com ingestão adequada de lipídios.

Fontes Alimentares

            Na forma natural, poucos alimentos contêm vitamina D. Entre estes se incluem óleo de fígado de peixe, alguns tipos de peixe como sardinha, salmão, arenque e atum, e gema de ovo. Em países onde há fortificação de alimentos com vitamina D, o maior consumo dessa vitamina provém de alimentos fortificados, como leite, margarina, pães, cereais matinais e suco de laranja. O conteúdo de vitamina D em alimentos não fortificados é geralmente baixo, com exceção de peixes como o salmão e a sardinha, que chegam a conter de 5 a 15µg (200 a 600 UI)/100g. 



Quadro 1. Conteúdo de vitamina D em alimentos considerados fonte (100g e medida usual).

Alimento
Quantidade de vitamina D em 100g (µg)
Medida usual
Quantidade de vitamina D na medida usual (µg)
Leite integral longa vida
1,00
1 copo (270g)
2,70
Leite em pó integral
8,30
2 colheres de sopa (26g)
2,16
Queijo muçarela
0,70
3 fatias (45g)
0,33
Queijo prato
0,90
1 ½ fatias (30g)
0,27
Coxão mole
0,30
1 bife (90g)
0,27
Fígado bovino (cozido)
0,29
1 bife (100g)
0,29
Ovo de galinha inteiro
1,30
2 unidades (100g)
1,30
Ostra cozida
16,05
1 porção (90g)
14,44
Camarão cozido
3,58
5 unidades (100g)
3,58
Salmão
11,83
1 filé (100g)
11,83
Atum fresco
5,38
1 filé (100g)
5,38
Linguado cozido
1,50
1 filé (100g)
1,50
Pescada frita
1,68
1 filé (80g)
1,34
Bacalhau seco
5,13
1 porção (100g)
5,13
Óleo de fígado de bacalhau
34,0
1 colher de sopa (13,5g)
183,60
Fonte: Philippi, 2008.

Recomendações Nutricionais

            Apenas AIs e ULs foram determinadas para vitamina D. A AI deve ser usada como meta de ingestão individual e representa a quantidade que terá de ser ingerida, com objetivo também de manter as concentrações sanguíneas de cálcio e fósforo. As recomendações estabelecem 5µg/dia de vitamina D para adultos e 10µg/dia para idosos. As DRIs são semelhantes, com a diferença de que, a partir de 71 anos, as recomendações aumentam para 15µg/dia.

Quadro 2. Recomendações de ingestão de vitamina D baseadas em AIs e valores máximos tolerados de ingestão (UL).

Estágio de vida
AI - µg (UI)/dia
UL- µg (UI)/dia
0 – 6 meses
5,0 (200)
25,0 (1000)
7 – 12 meses
5,0 (200)
25,0 (1000)
1 – 3 anos
5,0 (200)
50,0 (2000)
4 – 8 anos
5,0 (200)
50,0 (2000)
9 – 13 anos
5,0 (200)
50,0 (2000)
14 – 18 anos
5,0 (200)
50,0 (2000)
19 – 50 anos
5,0 (200)
50,0 (2000)
51 – 70 anos
10,0 (400)
50,0 (2000)
      > 70 anos
15,0 (600)
50,0 (2000)
Gestantes
5,0 (200)
50,0 (2000)
Lactantes
5,0 (200)
50,0 (2000)
                 Fonte: Cozzolino, 2005.

Deficiência Nutricional

            A deficiência pode ser observada em indivíduos que tenham muito pouca exposição ao sol ou que apresentam alterações no metabolismo lipídico. Em adultos, leva à osteomalácia, caracterizada por desmineralização da matriz orgânica do osso, resultando em ossos fracos, sensíveis à pressão, fraqueza em músculos proximais e aumento da frequência de fraturas. Em idosos, o estado nutricional deficiente de vitamina D pode ser responsável pela menor absorção de cálcio e consequente efeito no desenvolvimento de osteoporose na pós-menopausa. Em crianças, a deficiência causa o raquitismo. 

Avaliação do Estado Nutricional

De acordo com a última diretriz da Endocrine Society sobre a avaliação, tratamento e prevenção da deficiência de vitamina D, os níveis sanguíneos de vitamina D devem ser solicitados somente em casos de indivíduos com risco de deficiência. O documento ressalta que não está indicado realizar o rastreamento universal de vitamina D para a população que não se encontre em grupos considerados de risco.

Segundo a diretriz, os grupos de risco são: idosos (especialmente com história de quedas ou fraturas), pacientes com osteoporose, doença renal crônica, doença hepática crônica, síndromes de má absorção, doenças granulomatosas, pacientes em uso de medicamentos anticonvulsivantes, glicocorticoide, antirretrovirais, antifúngicos, além de crianças com baixa estatura e adultos obesos. 

O principal indicador das reservas corporais de vitamina D são os níveis sanguíneos de 25-hidroxivitamina D (25[OH]D3), que deve ser avaliado por ensaio bioquímico confiável, pois pode haver variações de acordo com o método laboratorial realizado. A Endocrine Society desaconselha o uso da 1,25(OH)2D3 como rotina, exceto para situações específicas de desordens adquiridas e genéticas de vitamina D e do metabolismo do fosfato.

Quadro 3. Indicadores de saúde para diferentes concentrações séricas de 25(OH)D.

Concentração sérica 25-OHD3 (ng/mL)
Concentração sérica 25-OHD3 (nmol/L)
Indicador de saúde
< 20
< 50
Deficiência
20-30
50-75
Insuficiência
30-100
75-250
Suficiência
˃ 100
˃ 250
Excesso
˃ 150
˃ 375
Risco de toxicidade
Fonte: ILSI, 2014.

As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.

Referências Bibliográficas:

Boullata JI. A rational approach to vitamin D supplementation. Nutrition. 2012;28(11-12):1204-5.

Castro, RCB. Quando devo solicitar os níveis séricos de vitamina D? Disponível em: www.nutritotal.com.br Acessado em: 04/05/2016.

Cozzolino, SMF. Vitamina D (Calciferol). Biodisponibilidade de nutrientes. 1. ed. Barueri, SP: Manole, 2005.

Dunker, KLL; Alvarenga, M; Moriel, P. Grupo do leite, queijo e iogurte. In: Philippi, ST. Pirâmide dos alimentos: fundamentos básicos da nutrição. 1. ed. Barueri, SP: Manole, 2008.

Holick MF, Binkley NC, Bischoff-Ferrari HA, Gordon CM, Hanley DA, Heaney RP, et al. Evaluation, treatment, and prevention of vitamin D deficiency: an Endocrine Society clinical practice guideline. J Clin Endocrinol Metab. 2011;96(7):1911-30.

Holick MF, Binkley NC, Bischoff-Ferrari HA, Gordon CM, Hanley DA, Heaney RP, et al. Guidelines for preventing and treating vitamin D deficiency and insufficiency revisited. J Clin Endocrinol Metab. 2012;97(4):1153-8.

Peters, BSE; Martini, LA. Vitamina D. São Paulo: ILSI Brasil-Internacional Life Sciences Institute do Brasil, 2014.

Pramyothin P, Holick MF. Vitamin D supplementation: guidelines and evidence for subclinical deficiency. Curr Opin Gastroenterol. 2012;28(2):139-50.

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