O
ácido fólico é uma vitamina do complexo B, hidrossolúvel, cuja fonte é
exclusivamente exógena. Atua na formação de produtos intermediários do
metabolismo, que por sua vez estão envolvidos na formação celular. Está
presente na síntese de DNA e RNA, na formação e maturação das hemácias e
leucócitos e serve como carreador de carbono isolado na formação do grupo heme.
Formador de coenzimas (dihidrofolato e tetrahidrofolato), auxilia na conversão
da vitamina B12 para uma de suas formas de coenzima. Cerca de 80% do ácido
fólico presente na dieta encontra-se sob a forma de poliglutamatos, que são
absorvidos no intestino delgado. Grande parte do folato proveniente da
alimentação sofre metilação e redução dentro da célula da mucosa intestinal,
sendo o 5-metil-tetrahidrofolato o folato que entra na circulação portal. Há
pouca perda na urina e a maioria do folato plasmático encontra-se ligado à
proteína, que o protege da filtração glomerular. A perda fecal também é
pequena, uma vez que a absorção de metil-tetraidrofolato no jejuno é muito
eficiente.
Avaliação do Estado
Nutricional de Ácido Fólico
A avaliação bioquímica de folato é
feita pela dosagem de seus níveis séricos e eritrocitários, cuja faixa de
referência normal situa-se entre 9,8 e 16,2nmol (4,4 e 7,2mcg/L) para o
primeiro e 420 e 620nmol (185 e 270mcg/L) para o segundo. Outras alterações
laboratoriais que podem ser encontradas são resultados anormais dos testes de
função hepática, elevação dos níveis séricos de desidrogenase lática,
homocisteína e ferro, associados ao folato eritrocitário reduzido. A medida de
folato sérico reflete o balanço imediato, ou seja, referente ao consumo
recente, enquanto a medida de folato eritrocitário indica melhor a situação dos
tecidos, referente a um período mais longo.
O diagnóstico da deficiência de
folato é feito pelos níveis séricos abaixo de 6,8nmol/L (ou 3,0mcg/L) e
eritrocitários abaixo de 320nmol/L (ou 140mcg/L). A homocisteína encontra-se
elevada na deficiência de cobalamina, folato e piridoxina, e em pacientes que
apresentam erros inatos do metabolismo de enzimas associadas à homocisteína,
portanto, não se trata de um exame específico. Por isso, a análise de vitamina
B12 é feita em conjunto ao diagnóstico de deficiência de folato, e a própria
deficiência de folato também pode levar à redução nas concentrações de
cobalamina por um bloqueio metabólico.
Os valores de referência normais de
homocisteína para a população com menos de 60 anos variam de 6 a 12µmol/L para
o sexo feminino e de 8 a 14µmol/L para o sexo masculino.
Fontes Alimentares
Os alimentos com maior teor de
folato são as leveduras, vegetais folhosos verde-escuros frescos, fígado e
outras vísceras, amendoim, ovo, cereais enriquecidos e grãos integrais.
O leite de mulheres com adequado
estado nutricional de ácido fólico cerca de 85mcg/L dessa vitamina, enquanto o
leite de vaca apresenta 50mcg/L. Dessa forma, lactentes que recebem outro tipo
de alimentação além do leite materno têm um risco maior de apresentar
deficiência.
Quadro 1.
Conteúdo de folato em alimentos considerados fonte.
Alimento
|
Quantidade
em 100g (µg)
|
Medida
usual
|
Quantidade
(µg)
|
Fígado
de galinha (cru)
|
590
|
1 unidade (30g)
|
177
|
Fígado
de boi (cozido)
|
212
|
1 unidade (100g)
|
211
|
Ovo
cozido
|
47
|
1 unidade (45g)
|
21
|
Lentilha
cozida
|
181
|
3 colheres de sopa (54g)
|
98
|
Feijão
cozido
|
20
|
1 concha (100g)
|
21
|
Espinafre
cozido picado
|
146
|
2 colheres de sopa (50g)
|
39
|
Brócolis
cozido
|
50
|
3 colheres de sopa (40g)
|
20
|
Folhas
de mostarda cozida
|
73
|
2 colheres de sopa (50g)
|
37
|
Laranja
|
30
|
1 unidade (180g)
|
54
|
Fonte: Philippi, 2008.
Fortificação dos Alimentos
com Ácido Fólico
O enriquecimento de alimentos com
ácido fólico tem se tornado uma prática comum no mundo todo. Nos Estados
Unidos, tornou-se obrigatória em 1996 e, no Brasil, a Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa), por meio da Resolução n.344, de 13 de Dezembro
de 2002, instituiu a obrigatoriedade do enriquecimento de farinhas de trigo e
milho (também fubá e flocos de milho) com ácido fólico (150µg a cada 100g de
farinha), além do ferro (4,2mg a cada 100g de farinha). No entanto, a resolução
excluiu do regulamento a farinha de trigo integral devido a limitações de
processamento tecnológico. A Resolução considerou as recomendações da OMS e da
Organização Panamericana da Saúde (Opas) de fortificação de produtos
alimentícios com ácido fólico para a redução de doenças do tubo neural e
mielomeningocele. Na rotulagem dos produtos, devem-se observar as seguintes
expressões: farinha de trigo fortificada ou enriquecida ou rica em ácido fólico
e ferro. É importante considerar que 1µg de folato alimentar equivale a 0,6µg
de ácido fólico de alimento fortificado ou suplemento.
Recomendações Nutricionais
As recomendações nutricionais para o
folato segundo as DRIs variam conforme o estágio de vida e gênero. A manutenção
de níveis normais de homocisteína é considerada um indicador de adequada
ingestão de folato. Durante o período gestacional, o aumento da ingestão de
folato tem um papel protetor na prevenção de espinha bífida e outros defeitos
do tubo neural associados à sua baixa ingestão. Atualmente recomenda-se a
suplementação de ácido fólico no início da gestação.
Quadro 2.
Recomendações das DRIs para folato.
Grupos
|
Estágio
de vida
|
Homens
(mg/dia)
|
Mulheres
(mg/dia)
|
1°
ano de vida
|
0-6 meses
|
65 (AI)*
|
65 (AI)*
|
1°
ano de vida
|
7-12 meses
|
80 (AI)*
|
80 (AI)*
|
Pré-
escolar
|
1-3 anos
|
150
|
150
|
Escolar
|
4- 8 anos
|
200
|
200
|
Escolar
|
9-13 anos
|
300
|
300
|
Adolescente
|
14-18 anos
|
400
|
400
|
Adulto
|
≥ 19 anos
|
400
|
400
|
Gravidez
|
Todas as idades
|
-
|
600
|
Lactação
|
Todas as idades
|
-
|
500
|
AI =
Ingestão Adequada.
Fonte: Philippi, 2008.
Deficiência em Folato
A deficiência em ácido fólico pode
aumentar em situações como baixa ingestão, aumento da demanda durante
crescimento, gravidez e lactação, má absorção, hemólises e doenças malignas,
como leucemias. O alcoolismo crônico também está associado com a deficiência em
folato. Algumas drogas induzem essa deficiência, como drogas quimioterápicas
(por exemplo, metotrexate), antibacterianas (trimetoprim) e antimaláricas
(pirimetamine). Um número de drogas antiepilépticas, incluindo difenilidantoina
(fenitoína) e algumas vezes fenobarbital e primidone, também podem causar
deficiência de folato.
A deficiência em ácido fólico é
relativamente comum; cerca de 8 a 10% da população de povos desenvolvidos têm
baixas reservas, medidas pelo folato eritrocitário. A anemia perniciosa afeta
cerca de 0,13% da população, com ligeiro aumento nas mulheres. Essa deficiência
produz anemia megaloblástica ou macrocítica com características semelhantes às
da deficiência em vitamina B12. Entretanto, lesões de mucosa e outras
manifestações clínicas, como defeitos no tubo neural ou, mais recentemente,
hiper homocisteinemia com danos vasculares, são bem conhecidos como
consequência da deficiência em folato. A deficiência em folato pode também
estar associada com complicações durante a gravidez, como abortos espontâneos,
sangramentos e pré-eclâmpsia. Outros trabalhos observaram correlação entre
deficiência de ácido fólico e câncer colorretal. As deficiências em vitamina
B12 e folato se associam com a doença psiquiátrica, embora os mecanismos subjacentes
não sejam claros. Insônia, esquecimentos e irritabilidade durante o
desenvolvimento da deficiência em folato respondem bem à administração da
vitamina.
Toxicidade
O ácido fólico não é tóxico, mas
deve haver certa preocupação pelo fato de que altas doses podem mascarar anemia
perniciosa. Entretanto, esse efeito é estabelecido apenas com ingestão superior
a 5mg. As evidências relacionadas com doses de 1mg ou menores ocorrem quase
inteiramente de ácido fólico injetável. A maioria dos estudiosos concorda que
uma ingestão de 1.000µg (1mg) de ácido fólico total incluindo o folato dos
alimentos não apresenta riscos identificáveis de efeitos adversos conhecidos. O
valor de UL (limite superior tolerável de ingestão) recomendado para ácido
fólico é de 1000µg/dia para adultos.
As informações contidas
neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos
profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos,
educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu
conhecimento.
Referências
Bibliográficas:
Mafra, D; Cozzolino, SMF.
Ácido Fólico. In: Cozzolino, SMF. Biodisponibilidade
de nutrientes. 1. ed. Barueri, SP: Manole, 2005.
Philippi, ST; Jaime, PC; Ferreira, CM. Grupos das Frutas e dos Legumes e Verduras. In:
Philippi, ST. Pirâmide dos alimentos: fundamentos básicos da nutrição. 1. ed.
Barueri, SP: Manole, 2008.
Vannucchi, H; Monteiro, TH. Ácido Fólico. International Life Sciences Institute – ILSI, 2010.
Nenhum comentário:
Postar um comentário