A
cirurgia bariátrica é considerada, atualmente, o tratamento de escolha para
redução do peso corporal e sua manutenção a médio e longo prazos, em pacientes
com obesidade grave. A obesidade está associada a maior morbidade secundária a
aumento da resistência à insulina, diabetes, hipertensão e dislipidemias,
condições que representam cerca de 8% do total de gastos em saúde pública no Brasil.
Existem ainda custos indiretos relacionados ao afastamento do trabalho,
absenteísmo e aposentadorias mais precoces dos indivíduos com obesidade.
Pacientes
com IMC igual ou superior a 45kg/m² apresentam uma diminuição da expectativa de
vida e um aumento da mortalidade por causa cardiovascular, que pode chegar a
190%. Nesse contexto, a cirurgia bariátrica é um recurso consistente nos casos
de obesidade grave com falha documentada de tratamento clínico, proporcionando
aos pacientes uma redução nos índices de mortalidade e melhora de comorbidades
clínicas.
No
ano passado, mais de 7.500 brasileiros fizeram o procedimento pelo Sistema
Único de Saúde (SUS) e tiveram que modificar hábitos alimentares antes mesmo da
cirurgia. O período pós-operatório é uma fase fundamental desta abordagem
terapêutica, que inclui diversas especificidades. É seguido de acompanhamento
periódico para corrigir possíveis deficiências de nutrientes e alterações
metabólicas.
Após
a cirurgia da obesidade observam-se redução considerável na ingestão alimentar
e perda drástica do peso corporal. A diminuição da área absortiva intestinal
provoca distúrbios na digestão e absorção dos nutrientes, com possíveis riscos
metabólicos. Dessa maneira, qualquer técnica utilizada no tratamento da obesidade
requer adequação da composição alimentar, além de suplementação de nutrientes
por tempo indeterminado.
PÓS-OPERATÓRIO
● Benefícios
Maior
controle do peso corporal promovido pela cirurgia bariátrica promove melhora
das comorbidades relacionadas à obesidade, do estado psicossocial e da
qualidade de vida. O paciente submetido à cirurgia bariátrica frequentemente
evolui com melhora de diabetes melito tipo 2, hipertensão arterial, função
cardíaca, perfil lipídico, função respiratória, doenças do sono, doença articular
degenerativa, infecções, refluxo gastroesofágico, mobilidade, estase venosa,
esteatoepatite não alcoólica, asma, síndrome dos ovários policísticos,
infertilidade e complicações gestacionais, embora o risco de neonato com baixo
peso ou prematuro seja maior em mulheres operadas.
● Complicações
As
complicações pós-operatórias mais comuns de todas as técnicas são
tromboembolismo pulmonar, deiscência da sutura, fístulas, estenoses, infecções
e hemorragia (mais comuns no pós-operatório precoce), hérnia interna e
obstrução intestinal (mais comuns no pós-operatório tardio). Nas técnicas
disabsortivas e, em menor grau, na DGYR (derivação gastrojejunal em Y de Roux),
há maior risco de se desenvolver diarreia com flatulência excessiva e
desnutrição proteica, mas anemia ferropriva, deficiência de vitaminas e doenças
osteometabólicas são comuns em ambas.
Quadro 1.
Complicações e manifestações clínicas mais comuns da cirurgia bariátrica.
Complicações
|
Manifestações Clínicas
|
Distúrbios ácido-básicos
|
Acidose
metabólica; Cetoacidose
|
Hiperproliferação bacteriana
|
Distensão
abdominal; pseudo-obstrução; diarreia noturna; artralgia
|
Anormalidade eletrolíticas
|
Hipocalcemia;
hipokalemia; hipomagnesemia; hiponatremia; hipofosfatemia
|
Deficiência vitamínica
|
Deficiência
de vitaminas A,D, E e K; Deficiência de ácido fólico e de vitamina B12;
Anemia
|
Deficiência de ferro
|
Anemia
que pode necessitar de ferro endovenoso e transfusão
|
Osteoporose
|
Fraturas
|
Deficiência de tiamina
|
Deficiência
de Wernicke-Korsakoff
|
Deficiência de vitamina B12
|
Neuropatia
periférica e anemia
|
PERDA DE PESO
A
perda de peso total é de, em média, 30% no primeiro ano, com redução gradual no
decorrer dos anos, podendo ocorrer reganho de peso após esse período. Esse
reganho pode ser recorrente de falhas técnicas, distúrbios psiquiátricos ou
consumo de alimentação inadequada, com redução no consumo de frutas, vegetais e
aumento da ingestão de líquidos hipercalóricos e doces.
Para
avaliar a perda ponderal são utilizadas as seguintes equações:
● Perda Ponderal Total (PPT): peso
pré-operatório (kg) – peso atual (kg);
● Percentual de perda ponderal (%PP):
peso pré-operatório (kg) – peso atual (kg) x 100/peso pré-operatório (kg);
● Excesso de peso (EP): peso
pré-operatório (kg) – peso ideal (kg);
● Percentual de perda do excesso de peso
(%PEP): peso pré-operatório (kg) – peso atual (kg) x 100/excesso de peso
(kg).
A
perda de peso acarreta melhora ou até mesmo cura de comorbidades associadas,
além da melhora da capacidade funcional e benefícios na qualidade de vida. No
entanto, quando a perda de peso é excessiva no primeiro ano, pode refletir o
consumo de dietas de muito baixo valor calórico (< 800kcal) e/ou
desbalanceada em macro e micronutrientes, podendo levar à desnutrição proteico
calórica e deficiência específica de nutrientes. Muitas vezes, é necessária a
internação hospitalar para a instalação de suporte nutricional agressivo.
O
sucesso da cirurgia não deve ser medido unicamente pela perda de peso, mas
também pela qualidade do padrão alimentar assumido pelo paciente. Em muitos
casos, observam-se dificuldades na adaptação ao novo padrão dietético, com
manutenção prolongada de dietas de consistência semilíquida ou pastosa, nas
quais se pode fazer a opção por alimentos pouco nutritivos, porém bem
tolerados.
Vários
estudos têm avaliado o estado nutricional após cirurgias bariátricas,
detectando redução do consumo alimentar, principalmente de calorias, proteínas,
vitaminas e minerais, e observando que, em alguns pacientes, a ingestão de
nutrientes é inferior a 50% das suas necessidades nutricionais.
ORIENTAÇÕES DIETÉTICAS APÓS
30 DIAS DE PÓS-OPERATÓRIO
●
Mastigar bastante antes de engolir, mesmo os alimentos macios;
●
Utilizar talheres e pratos pequenos, tipo sobremesa, nas refeições;
●
Evitar beber líquidos durante as refeições, sendo o ideal ingeri-los 1 hora
antes ou depois;
●
Ingerir água, sucos, chás e água de coco entre as refeições;
●
Procurar seguir horários regulares e fracionar a alimentação em 6 a 8 refeições
por dia;
●
Evitar se alimentar com pressa ou assistindo à televisão;
●
Usar adoçantes artificiais líquidos ou em pó. Evitar os constituídos de
frutose, lactose e maltose;
●
Evitar alimentos ricos em gordura como: frituras, carnes gordas, empanados à
milanesa, margarina, manteiga, sorvetes, chocolates, molhos prontos, caldos
industrializados, creme de leite, maionese, patê gorduroso, enlatados com
azeite, leite de coco, coco, paio, linguiça, salsichas, óleo de dendê,
chantilly, leite integral e embutidos;
●
Evitar alimentos ricos em açúcar como: açúcar comum, mel, rapadura, tortas,
bolos, flans, cereais matinais, achocolatados, refrigerantes comuns e biscoitos
recheados;
●
Preferir leite desnatado ou à base de soja light; sempre suplementando com
leite em pó ou proteína em pó;
●
Evitar os queijos amarelos (ricos em gordura) como: mussarela, prato, cheddar,
requeijão comum;
●
Preferir os queijos brancos ou light (menor teor de gorduras), requeijão light
ou 0% de gordura, coalhadas e iogurtes desnatados;
●
Consumir as frutas, de preferência com a casca e com as fibras (bagaço);
●
Preferir os cereais integrais como: pão integral, arroz integral, bolachas
integrais, macarrão integral, entre outros;
●
Consumir carnes magras, começar com carne moída sem gordura ou cozida em panela
de pressão. Começar consumindo apenas 1 colher de sopa e ir aumentando o
consumo de acordo com a tolerância;
●
Consumir frango sem pele, peixe sem pele, soja, bode (sem gordura), carneiro,
cabrito, crustáceos e fígado em preparações grelhadas ou cozidas sem óleo e
assados no forno;
●
Tomar suplemento vitamínico-mineral indicado diariamente.
As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas
por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos,
nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e
exclusivamente, para seu conhecimento.
Referências Bibliográficas:
Diretrizes
Brasileiras de Obesidade 2016. Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade
e da Síndrome Metabólica – ABESO. 4 ed. São Paulo,SP.
Novos
hábitos alimentares devem fazer parte da rotina de quem fez redução de
estômago. Ministério da Saúde. Disponível em: www.blog.saude.gov.br
Acessado em: 21/12/2016.
Silva,
SA; Burgos, MGPA. Consumo alimentar no pré e pós-operatório de cirurgia
bariátrica. In: Burgos, MGPA. Nutrição em Cirurgia Bariátrica. 1 ed. Rio de
Janeiro: Editora Rubio, 2011.
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